Terra da Gente

Por Thaís Pimenta, Terra da Gente


rã-enfermeira é nova espécie da Amazônia — Foto: reprodução/peerj.com/articles/13026/

Não dá para negar que o Brasil é o país da biodiversidade. E não à toa, a cada instante, a fauna e a flora se revela de formas surpreendentes. Dessa vez, o canto "diferente" de um anfíbio chamou a atenção de pesquisadores da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (MS), durante uma expedição no sul da Amazônia.

Com estudo de DNA eles descobriram uma nova espécie de anfíbio da Amazônia: o sapinho-foguete-dos-paleci ou rã-enfermeira-dos-paleci (Allobates paleci). A espécie é exclusiva do nosso país e foi encontrada durante um trabalho, às margens do rio Teles Pires, entre os municípios de Jacareacanga, no Pará (PA) e Paranaíta, no Mato Grosso (MT). Apesar de ser recém descoberta, o habitat da espécie foi considerado ameaçado.

Área de ocorrência da rã-enfermeira — Foto: reprodução/artigo: peerj.com/articles/13026/

O nome científico desse novo anfíbio foi inspirado nas populações indígenas que antigamente, ocupavam os principais afluentes dos rios Tapajós, Juruena, Teles Pires e Arinos. "No caso dos habitantes do rio Teles Pires, a população era chamada de Paleci. Daí o nome da espécie, que faz referência ao local onde foi encontrada", conclui ele.

De acordo com o pesquisador Diego Santana, os nomes populares sapinho-foguete-dos-paleci ou rã-enfermeira, fazem referência ao comportamento desse anfíbio que representa extrema agilidade e cuidado parental.

Esse anfíbio tem o comportamento bem curioso de depositar os ovos em uma castanha ou em uma poça pequena d'água, no meio da mata. Quando os girinos eclodem, os machos sentam nesse pequeno acúmulo de água para que eles subam nas costas do 'pai'. Quando isso acontece o adulto leva esses filhotes ainda em fase larval, para uma poça d'água maior, onde completam o seu desenvolvimento.

Rãs-do-foliço foi outra espécie encontrada na região de Teles Pires — Foto: reprodução/artigo: peerj.com/articles/13026/

Sobre o estudo

Assim que os biólogos perceberam que poderiam estar frente a frente com uma nova espécie de anfíbio do grupo Allobates, decidiram se aprofundar em uma pesquisa que teve início em 2019.

"Como trabalhamos com sequenciamento de DNA, nós fizemos a análise genética e percebemos que se tratava de uma nova espécie. Além do canto diferente, esse sapo tem algumas marcas com uma coloração diferente dos demais anfíbios do gênero. Até agora esse sapo só foi visto nessa região, ou seja, ele só ocorre naquela região da Amazônia", conta.

DNA, canto e morfologia foram analisados — Foto: reprodução/ artigo: peerj.com/articles/13026/

Região rica em risco

Diego Santana explica que às margens do rio Teles Pires, já foram descobertas ao menos cinco novas espécies de anfíbios. Existem ainda outras que nem chegaram a ser catalogadas. De toda forma, isso mostra a riqueza presente na região amazônica.

"O gênero Allobates é um grupo de anfíbios estudado por muitos pesquisadores do Brasil e do exterior. Existe um banco de dados genéticos que mostram diversas espécies que ainda não foram catalogadas porque precisam de um estudo mais aprofundado, e isso acende um alerta sobre a importância da conservação daquela área e de outras partes da Amazônia", conta.

Os biólogos estiveram em campo nessa região para analisar a biodiversidade local, pois haverá a implementação de uma hidrelétrica na área. A ação afetará diretamente na vida das espécies inseridas nesse ambiente.

"Temos uma fauna muito rica e única, e as regiões na beira dos rios, vão ficar debaixo d'água. Então tem muitos habitats dessas espécies que a gente tem descrito podem ser destruídas devido ao desenvolvimento das hidrelétricas", afirma.

P. korekore - espécie descoberta na mesma região do rio Teles Pires — Foto: reprodução/artigo: peerj.com/articles/13026/

Últimas espécies identificadas

Entre as espécies que foram descobertas recentemente na região, uma é a Ameerega munruduku , considerada um sapinho venenoso, e o alerta deriva também das cores que ele apresenta.

Ameerega munruduku — Foto: reprodução/ artigo: peerj.com/articles/13026/

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